Eva O.
Noord Holland - March 23, 2018
Meu nome é Ivan, uma identidade que ecoa mais um sussurro do que uma lembrança. O passado que me precede é envolto por sombras, fragmentos de um mosaico dilacerado. Não sei se fui vítima das forças que permeavam aquele laboratório, onde investigava um esquema vil de tráfico humano, ou se foi a enigmática presença de minha musa, Eva O., que consumiu e obscureceu tudo antes de sua aparição.
Trabalhei por meses infiltrado no laboratório, e foi lá que conheci Eva O. Em um surto de paixão arrebatadora, ela me persuadiu a fugir ao seu lado, e eu cedi, enlevado por uma felicidade que parecia consumir. Mas aquele lugar era mais do que uma simples fachada de experimentos; era uma âncora sombria que prendia minha psique. Algo que eu vislumbrei ali, uma oscilação sutil no véu que separava o real do impossível, me chamava de volta. Durante nossa fuga, Eva O. cravou um lápis no olho do diretor Adolf, e juntos corremos para fora, movidos por um misto de terror e êxtase. Eu estava eufórico.
Chegamos a Sassenrein, uma cidade esquecida pelo tempo, onde as sombras das fachadas dançavam sob a luz moribunda dos postes. Lá, a noite era tão densa que o silêncio parecia uma entidade vigilante. Passamos algumas horas – talvez mais, talvez menos – mas em meio à bruma da memória, uma figura emergiu: um segurança noturno. Seu olhar cortava como uma lâmina, cheio de um interesse que roçava a desconfiança. Conversamos com ele, ou talvez tenha sido uma troca de olhares e meias palavras.
Eva O., sempre com a mente afiada e inquieta, sugeriu que nossa história poderia ser vendida, trocada por notoriedade ou aliados. Decidimos seguir para a região sul de Amsterdam, onde os jornais poderiam ser mais que apenas papel e tinta. No trem, o calor do momento se intensificou. Eva O. irradiava uma luxúria que me prendeu sem resistência, e nos beijamos com uma urgência que ignorava os detalhes do mundo à nossa volta. Nenhum fiscal ousou interromper ou questionar se tínhamos direito àquele espaço.
Desembarcamos, os ecos da estação soando como um prelúdio a algo maior, e caminhamos até a sede do Telegraf. Mas ali, sob o peso do cansaço e da excitação, minha mente fragmentou. As cenas se embaralham em flashes confusos, uma névoa que devora detalhes. A única certeza que me restava era a de que Eva O., com sua voz hipnótica, havia convencido um repórter a nos financiar. Dez mil euros – um pacto para retornarmos ao laboratório e extrairmos provas.